A morte no Ocidente católico foi, por longo período, um monopólio da Igreja, que dela se apropriava como um instrumento pedagógico da fé cristã. Essa pedagogia do medo disciplinava as sensibilidades e as práticas fúnebres; por meio do “bem morrer”, ensinava-se o “bem viver” ao cristão. Nesse contexto, textos do direito canônico além dos chamados “manuais da boa morte” elegeram os testamentos como instrumentos privilegiados na representação da morte cristã. De meros mecanismos de transmissão de herança, os testamentos se transformavam em aparelhos para a salvação da alma. Este trabalho pretende analisar a permanência do caráter salvífico nos testamentos de meados do século XIX, tomando como estudo de caso a Freguesia de Piraí, no Vale do Paraíba Fluminense.
For a long while, the death in Catholic West has been a monopoly of Church, which used to appropriate it as a pedagogical tool of Christian faith. The pedagogy of fear has disciplined the funeral practices and sensibilities; through the “good dying”, the “good living” was taught to the Christians. In this context the canon laws and the so-called “good death manuals” have elected the testaments as privileged instruments at Christian death representation. From mere transmission instruments of inheritance, the testaments became apparatuses of salvation of soul. This study intends to analyze the permanence of the salvific character on the testaments from mid-nineteenth century, taking as case study the Parish of Piraí, located in the Fluminense Paraiba Valley.