O presente trabalho aborda as memórias de uma viúva de trabalhador rural assassinado em conflito de terra na região doMédio Mearim, no Maranhão. Presente no momento do ocorrido, juntamente com os filhos, ela entrou em luta corporal com o assassino e acabou matando-o, sendo levada a júri popular por homicídio e absolvida por legítima defesa. Buscamos analisar como ela se reconstrói a partir do vivido, no esforço de compreendê-la para além da situação de vítima. As suas memórias possibilitam a revisita ao campo maranhense e permitem o questionamento acerca do lugar ocupado pelas mulheres durante os conflitos agrários. O trabalho se faz relevante por resgatar uma situação de conflito na qual os camponeses não são, necessariamente, vítimas, recuperando informações que ficaram no anonimato. Ele traz a memória autobiográfica como principal categoria de análise e, como aporte teórico, as contribuições de Elizabeth Jelin (2001), Jonathan Grossman (2000) e Michael Pollak (1989). Está estruturado a partir de campo etnográfico, de entrevistas semiestruturadas e consulta a fontes bibliográficas e documentais.
Le présent travail porte sur les souvenirs de la veuve d'un travailleur rural assassiné lors d'un conflit foncier dans la région du Moyen Mearim, à Maranhão. Présente au moment des faits, ainsi que ses enfants, elle s'est battue physiquement avec le meurtrier et a fini par le tuer, passant devant un jury pour meurtre et acquittée pour légitimedéfense. Nous cherchons à analyser la manière dont elle se reconstruit à partir de ce qu'elle a vécu, dans le but de la comprendre au-delà de la situation de victime. Ses souvenirs permettent de revisiter la campagne du Maranhão et de s'interroger sur la place occupée par les femmes lors des conflits agraires. Le travail est pertinent pour sauver une situation de conflit dans laquelle les paysans ne sont pas nécessairement des victimes, en récupérant des informations qui restaient anonymes. Il amène la mémoire autobiographique comme catégorie principale d'analyse et comme apport théorique les contributions d'Elizabeth Jelin (2001), Jonathan Grossman (2000) et Michael Pollak (1989). Il a été structuré à partir d'un terrain ethnographique, d'entretiens semi-structurés et de la consultation de sources bibliographiques et documentaires.