O episódio da Festa da Americana em A Confissão de Lúcio dá a ver a ambiência da Belle Époque parisiense. A Festa desempenha aà um duplo papel: o da teatralização e o do aprendizado. De um lado, essa orgia mágica ilustra perfeitamente a noção batalliana de “despesa†da qual se afastam as limitações e as regras do trabalho. De outro, pode-se certamente ver aà o amálgama inesperado do gozo e da aptidão intelectual, da desmedida orgÃaca e da busca espiritual, o que faz pensar no Banquete platônico. Esse refinamento erótico da linguagem não está longe das linhas sinuosas, das volutas e da ornamentação da Arte Nova em que se destaca a Belle Époque Francesa. A herança impressionista do jogo de cores, a aventura baudelairiana da correspondência das sensações, a experiência conjunta de excesso e de sutileza oferecem aos expectadores uma mise en scène da voluptuosidade, tal como a concebe essa estranha mulher, espécie de porta-voz do autor que, como tantos outros artistas, veio a Paris no alvorecer do século XX para experimentar o gozo da modernidade.