O cineasta francês Robert Bresson ficou conhecido pelo uso criativo dos diversos elementos sonoros em seus filmes e pela parcimônia na inserção de música. Em obras da fase intermediária de sua carreira, como Um condenado à morte escapou (1956), Pickpocket (1959) e A grande testemunha (1966), peças pré-existentes do repertório clássico foram utilizadas como música extradiegética e possuem aspectos formais que guardam analogias com sua distribuição nos respectivos filmes. Além disso, em Pickpocket, a música pré-existente de Lully também se relaciona com as vozes in e over. Na maioria das vezes, a voz in do final dos diálogos desencadeia os trechos de música, colocados em situações de movimento e com uma função semelhante ao divertimento na ópera barroca. Consideramos tambémas relações entre voz in e over e defasagens desta última com a ação e a imagem do diário do protagonista sendo escrito.