O conjunto das práticas instauradas nos postos indígenas, agências criadas pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), visava, a médio e longo prazo, o abandono de alguns hábitos e a adoção de outros. Ao menos, era esta a convicção do órgão, de que os corpos dos índios, através de ações contínuas e sistemáticas, se tornariam gradualmente mais harmônicos, submissos e obedientes, em sua concepção civilizadora. Em vários trechos da documentação do SPI, os funcionários discutem o resultado da pacificação dos índios e de todo o processo de transformação do índio em "civilizado", por meio de um conjunto de ações disciplinadoras, que é empregado na prática diária dos postos indígenas e, mais do que isso, como orientação a ser seguida em diversas situações. Para a compreensão desse processo, é preciso considerar que a partir de 1910 - quando o Serviço de Proteção ao Índio é criado -, o Estado brasileiro passa a adotar junto aos índios do Brasil, uma política de integração dos povos indígenas ao projeto de construção nacional. Partindo de uma concepção evolucionista, o projeto era parte de um programa que visava consolidar o país enquanto Estado-Nação. Essa integração, nos moldes de uma construção identitária homogeneizadora, está impressa nas imagens, aqui em análise, do arquivo do Serviço de Proteção aos Índios.