Em dezembro de 1976 ocorre, na Praia dos Ossos (RJ), um feminicídio que mobiliza grande parte da imprensa nacional e se torna um divisor de águas no que diz respeito à publicização da luta pelo fim da violência contra mulheres. A autoria do crime é assumida por Doca Street que, às vésperas do ano novo, atenta contra a vida de sua companheira, Ângela Diniz. Trinta anos mais tarde, Doca torna pública, através de uma narrativa autobiográfica, sua história de vida e sua relação com a vítima. Essa narrativa, publicada em 2006, recebeu o título de Mea Culpa, sendo apresentada como o depoimento que rompe trinta anos de silêncio. Parece ser possível estabelecer conexões entre a produção identitária de Doca e a masculinidade histórica disponível no contexto do crime. Aqui, partindo da análise do discurso, pretende-se levar adiante uma reflexão sobre masculinidade, gênero e identidade na autobiografia assinada por Doca.