Neste artigo, discutiremos um aspecto da formação médica no século XIX pouco óbvio e, no
entanto, tão significativo quanto a educação médica regular para a institucionalização da cultura médica acadêmica. Tratase
dos compêndios de medicina popular, os quais tiveram grande penetração naquela sociedade senhorial de base agrária.
Para se compreender o alcance deste tipo de educação médica informal é preciso levar em conta a carência de
médicos nas vastas regiões rurais por onde se dispersava o grosso da população brasileira. É sabido que a reduzida
corporação médica se concentrava na Corte e em Salvador. Os livros de medicina auto-instrutivos satisfaziam também
os interesses dos donos de escravos, que pretendiam manter a saúde de sua força de trabalho com o mÃnimo
de despesas. Ao contrário do ocorrido nos Estados Unidos, onde esses manuais eram expressão de um movimento
de afirmação da medicina popular, contra os privilégios reivindicados pela profissão médica, no Brasil esse tipo de
literatura era produzida por médicos com a chancela da Academia Imperial de Medicina.