Este artigo apresenta uma reflexão etnográfica sobre a cultura emotiva e os códigos de moralidade do lugar Varjão/Rangel, o bairro oficialmente Varjão e oficiosamente Rangel, no urbano contemporâneo da cidade de João Pessoa, Paraíba. A análise se organiza enquanto narrativa assentada em categorias êmicas de moradores do bairro do Varjão/Rangel, tido como um lugar de medos, estigma e pobreza tanto pela cidade quanto pelos próprios moradores do bairro. A classificação moral estigmatizante dos moradores como mal-educados, violentos, perigosos e sujos, impacta no Varjão/Rangel de maneira a configurá-lo como lugar liminar, em que disputas morais entre pessoas de bem, engraçadinhos (crianças, adolescentes e jovens envolvidos na pequena violência e em ações criminosas de baixa periculosidade) e pequenos bandidos não se resolvem na forma de estratificações unívocas entre estabelecidos e outsiders. Estas disputas morais cotidianas são vividas no jogo de desculpas e acusações, fofocas e intrigas, amor e ódio, entre os moradores que se apontam mutuamente como sendo pessoas de bem, e, portanto, pertencentes ao Rangel, e supostos personagens moralmente desqualificados, apontados como personagens problemáticos ligados ao Varjão.