Neste artigo analisaremos os dois volumes autobiográficos de Miguel Reale (1910-2006), Memórias. Destinos cruzados e Memórias. A balança e a espada, lançados em 1986 e 1987 pela Editora Saraiva, buscando compreender as táticas e as estratégias discursivas utilizadas por ele nesta (re)construção de uma biografia pública. Reale, além de articulador e teórico civil do Golpe de 1964, foi constante colaborador da Ditadura. Durante o processo de reorganização democrática do Estado autocrático-burguês foi assessor jurídico de João Figueiredo, lutando por uma abertura política conservadora, que fosse pautada e compreendida pelo povo como um “presente”. Esta proximidade trouxe uma série de questões, pois se Reale não podia renegar os antigos compromissos, não poderia, do mesmo modo, assumir publicamente a defesa do regime. Buscando garantir sua posição de intelectual desenvolveu várias ações articuladas, sendo a principal as edições de suas memórias.