Neste trabalho, pretendo esboçar um conceito de moral
que possa servir de base para uma teoria imanente do valor com
fulcro na economia dos afetos envolvidos na confrontação moral, o
que é caracterÃstico de animais com sistema nervoso complexo,
como é, em especial, o caso de certas espécies de mamÃferos,
incluindo o homo sapiens. O que dá a esses afetos uma dimensão
moral é o modo como interferem e determinam o comportamento
mútuo de indivÃduos em grupo, mediante o quê valores são criados,
sustentados e transmitidos. O itinerário que seguirei será o seguinte:
discutirei, inicialmente, o problema da normatividade mediante
uma atualização da falácia naturalista a partir da falácia genética e
desde o ponto de vista de uma teoria do valor. Isto significa que não
abordarei a questão desde o problema do dever, mas mostrando que
a questão da falácia naturalista está conectada e pode ser melhor
entendida desde a perspectiva dos valores. A escolha, numa teoria
moral, sobre a medida do que é bom tem implicações fundamentais
para o conceito de dever nessa teoria, o que é o cerne de qualquer
discussão sobre normatividade. Esta conexão será explicitada. Em
seguida, desafiarei a tese de que o indivÃduo (no sentido civil e legal
atribuÃdo ao termo pelo Esclarecimento) seja um ponto de partida
adequado para a filosofia prática. Criticarei também os limites que a
tradição do Iluminismo tem posto ao que pode ser considerado
moral e, no mesmo movimento, o conceito de moral do
contratualismo clássico e que tem sido a base para a maioria das
abordagens contemporâneas em filosofia moral, inclusive de
algumas naturalistas.