O interesse histórico-educativo pelos “diários de bordo” reside nas referências culturais e educativas neles presentes, dependendo dos motivos da viagem, do que desperta a atenção do viajante e das habilidades que ele desenvolve para então descrevê-la. Diante disso, elegemos a narrativa de viagem de Cecília Meireles a Portugal como uma das fontes para a elaboração desse texto. Colecionadas no álbum intitulado “Diário de Bordo”, as crônicas foram publicadas no jornal A Nação, do Rio de Janeiro, entre os meses de outubro e dezembro de 1934. Nele, a poeta e educadora registrava cronologicamente os fatos e acontecimentos cotidianos do navio seguindo o que é previsto para um diário de viagem: uma sucessão de textos mais ou menos extensos, escritos enquanto uma ação se desenvolve, com certa frequência e regularidade. Interrogando a narrativa, procuramos sinais que fossem suficientes para entender onde e em qual momento o diário deixa de ser apenas um relato dos fatos ocorridos durante a viagem e que serão transmitidos aos leitores do jornal A Nação para se tornar autobiográfico ou autorreferencial, tecendo os sentidos, as impressões e as expectativas da travessia num claro entrelaçamento da vida profissional com a esfera íntima da educadora.