O presente trabalho resulta de um projeto de pesquisa que visa analisar, sob a perspectiva discursiva, uma novela da obra Três Vidas, da escritora norte-americana Gertrude Stein. Para isso, foi selecionado o conto Melanctha (1983), título homônimo à protagonista. O objetivo da pesquisa é compreender como a obra segmenta os seus personagens por meio de atributos designados a cada um deles a partir de sua etnia. A fundamentação teórica será norteada através da articulação de um diálogo entre os estudos culturais, como Woodward (2000) e teorias feministas de Bell Hooks (1981;2000) e Angela Davis (1982). Para a análise, mobilizamos as contribuições da teoria semiótica nos trabalhos de Barros (2005) e Fiorin (2008). Privilegia-se na análise o modo como a personagem é figurativizada, considerando os recursos sintáticos e semânticos mobilizados pelo enunciador. A transitoriedade que Melanctha realiza entre os supostos benefícios que a sua pele mais clara oferece e a busca constante pela aceitação da comunidade negra na qual vive é o que evidencia o limbo étnico, o entre-lugar, que preenche o cotidiano da protagonista. Como resultados finais, compreendemos que seus personagens não possuem apenas estereótipos raciais que remetem à situação escrava que perpetrou leis e costumes segregacionistas entre os cidadãos, mas, também, utilizou-se de representações pós-escravidão em que foram submetidos negros e negras pela população branca, expondo-os a situações tão revoltantes e subumanas quanto à escravidão que viveram outrora.
This research result from a project that aims to analyse, on discursive perspective, a novel from Three Lives, by Gertrude Stein, north-american writer. The research objective is to understand how the book separate its characters by their characteristics given to them by their race. The theoretical validity is based by cultural studies dialog, as Woodward (2000) and feminists theories by Bell Hooks (1981;2000) and Angela Davis (1982). To the analysis, we get semiotic theory contribution by Barros (2005) and Fiorin (2008). It privileged the character figure analysis, considering enunciator’s syntactic and semantic resources. Melanctha’s transitory among assumed benefits by her light skin and her constant search for black community’s acceptance where she lives it’s what shows the ethnic limbo, the entre-lugar where she is. As final results, we get that its characters not only had racial stereotypes that reminds from slavery where laws and segregation was built among the citizens, but also used post slavery representation which black people were subject by white population, exposed to insulting and subhuman situations, as horrid as slavery.