O artigo discute a presença de Kant nos textos de Nietzsche, em especial a partir de Aurora, destacando certo conjunto de afirmações sobre a filosofia transcendental que a concebe como filosofia insidiosa. Nossa hipótese é que, além de um debate mais profundo com temas capitais da filosofia Kantiana, Nietzsche elabora estrategicamente uma caricatura de Kant e se esforça por difamar os êxitos do seu programa moral com o intuito de desestabilizar a hegemonia alcançada pelo projeto kantiano, vinculando-a a uma motivação teológica. A insistência de Nietzsche em vulgarizar a filosofia transcendental, até seus últimos escritos, parece mostrar justamente sua tentativa de minar o domÃnio exercido pela interpretação moral de Kant, o que, a nosso ver, funciona como estratégia retórica importante na explicitação da moral como problema.