Investigo neste artigo os esforços filosóficos de Nietzsche em prol da afirmação da vida, com ênfase nas obras Assim Falou Zaratustra e O Anticristo. Apesar de abordar poucas vezes o gnosticismo, a visão gnóstica dualista de mundo é um desafio latente para a sua tarefa afirmativa. Por desconsiderar o dualismo maniqueísta e priorizar o dualismo metafísico platônico, o autor do Zaratustra se enreda em paradoxos de difícil superação, como mostrarei em um caso específico (da obra O Anticristo). Partindo da admissão de que o próprio Nietzsche operou com esquemas metafísico-dualistas na obra de juventude, analisaremos tentativas posteriores suas de afirmar radicalmente a vida, no plano de uma radical imanência ao mundo. Quanto mais busca afirmar incondicionalmente o mundo, sem oposições metafísicas, mais Nietzsche mergulha na consideração oposta de mundo, niilista e gnóstica, a saber, na vontade de nada, incrustrada na condição humana, que se instala como uma ameaça a todos os tipos humanos.