O presente artigo tem como intuito primordial caracterizar a interpretação heideggeriana de Nietzsche como ontoteólogo. Sabendo que este conceito assinala, para Heidegger, uma das principais caracterÃsticas da metafÃsica, o presente artigo vê-se desafiado a distinguir inicialmente os modos como Nietzsche e Heidegger compreendem a metafÃsica e o conceito de Deus. Se Nietzsche entende a metafÃsica, sobretudo em sua obra tardia, como pensamento que cinde o mundo em dois âmbitos ontológicos distintos e os opõe, determinando o suprassensÃvel como fundamento do sensÃvel, Heidegger entende este conceito como o pensamento que pergunta pelo ser do ente sem pensar a diferença irredutÃvel entre estas duas noções, o que o faz dicotomizar a entidade em existência e essência, para explicar sua estruturação. Neste sentido, mesmo sem dicotomizar o mundo por meio dos conceitos de sensÃvel e suprassensÃvel, Nietzsche ainda se moveria na onto-teo-logia, uma vez que seus conceitos de eterno retorno e vontade de poder são, na compreensão de Heidegger, modulações da diferença metafÃsica entre existência e essência, oposição esta que inscreve Deus como fundamento último da entidade, mesmo em um pensamento que tenha declarado a sua morte.
The main objective of this article is to characterize Heidegger´s interpretation of Nietzsche as an onto-theologian. Considering that this concept represents one of the main characteristics of metaphysics for Heidegger, the current article is challenged to distinguish at first the ways Nietzsche and Heidegger understand metaphysics and the concept of God. Nietzsche understands metaphysics, especially in his late works, as the thought that splits the world into two distinct ontological dimensions and opposes them, determining the supra-sensible dimension as the fundamental ground of the sensible one. Heidegger, on the other hand, understands this concept as the thought which asks about the Being of the being without considering the irreducible difference between these two notions, which makes it split the entity into existence and essence, in order to explain its structure. In this sense, even without applying dichotomy to the world through the concepts of “sensible†and “supra-sensibleâ€, Nietzsche would still be placed inside onto-theo-logy, since his concepts of eternal recurrence and will to power are, according to Heidegger, modulations of the metaphysical difference between existence and essence. This difference thus inscribes God as the utmost ground of the entity, even in a thought that had declared its death.