Noé e sua arca: da Torá ao Corão

Estudos De Religião

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ISSN: 0103801X
Editor Chefe: Etienne Higuet
Início Publicação: 28/02/1985
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Teologia

Noé e sua arca: da Torá ao Corão

Ano: 2012 | Volume: 26 | Número: 42
Autores: R. Porath
Autor Correspondente: R. Porath | [email protected]

Palavras-chave: história comparada das religiões, literatura do antigo Oriente, história da recepção da Bíblia, exegese, literatura sagrada bíblica e corânica

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

A narrativa do dilúvio é um raro exemplo da história da recepção de literatura que
parece não perder sua força de ressignificar-se em novos contextos históricos, conquistando
públicos os mais diversos durante um processo de transmissão que já dura nada
menos que três milênios. Desde que deixou sua terra natal no reino dos sumérios, na
Baixa Mesopotâmia, o fio condutor da narrativa sofreu algumas alterações. As intenções
modificam-se quando a história é traduzida para novas realidades, mas ainda assim
podemos falar de uma longa história dos efeitos dessa narrativa das águas diluvianas,
do barqueiro esperto e de sua condução salva-vidas. A personagem principal troca de
nome assim que chega a um novo destino. Na Torá, sacerdotes e pensadores do antigo
Israel o chamam de Noah / Noé; uma sura do Corão fala da história de Nuh. As diversas
versões tratam do fim de uma crise com ameaças extremas àqueles que se sabem
destinatários e narram a chegada do novo, em que sobreviventes atravessam o caos na
barcaça segura providenciada pela divindade salvadora. Essa vontade salvadora de Deus
estende-se à terra inteira, na versão do Noé bíblico e sua arca. Há como superá-la nessa
sua versão universal? Não deveria ser contada apenas como história cheia de graça?
Por que os escritos do Novo Testamento (NT) destacam da história de Noé e sua arca
apenas a analogia “como nos dias de Noé!” e não resgatam a promessa insuperável do
“nem mais haverá dilúvio para destruir a terra”? A exemplo do que acontece no NT,
também no Corão “os dias de Noé” são revividos nos embates do profeta árabe com
seus opositores, especialmente nos primórdios de sua atuação em Meca.



Resumo Inglês:

The flood narrative is a rare example of the history of literature reception that seems
not to lose its power of resignification in new historical contexts. It captures a wide public
during its transmission process, which lasts no less than three millennia. Since
leaving its native land in the kingdom of Sumer in Lower Mesopotamia, the thread of
the narrative undergoes some changes, modifying its intentions when translated into new
realities. Nevertheless, the effects of this narrative about the flood waters and the smart
lifesaving boatman have a long history. The main character has his name changed when
arriving to a new destination; in the Torah, priests and thinkers of ancient Israel call him
Noah; in the Koran, the sura tells the story of Nuh. The subject of the narrative, in its
several versions, is always the same: the end of a crisis with extreme threats to those to
whom it was addressed and the arrival of the new, where survivors face chaos on the
barge provided by the saving deity. In the biblical version of Noah and his ark, the
saving will of God is extended to the whole earth. Can this will of God be overcome
in this universal version? Shouldn’t it be told only as a story plenty of grace? Why did
the New Testament writings highlight only the analogy “as in the days of Noah!” and
did not recover the unsurpassed promise found in the “there will be no more flood
to destroy the earth”? As it happens in the New Testament, “the days of Noah” in the
Koran are also relived in the struggles of the Arabian prophet with his opponents, especially
in his early public performance in Mecca.



Resumo Espanhol:

La narrativa del diluvio es un raro ejemplo de la historia de la recepción de literatura
que parece no perder su fuerza de resignificar-se en nuevos contextos históricos, para
ganar a su público más diverso en un proceso de transmisión que ha durado no menos
de tres milenios. Desde que dejó su tierra natal en el reino de Sumer, en la Baja Mesopotamia,
el hilo de la narración sufre algunos cambios. Las intenciones cambian al
traducirse la historia para dentro de nuevas realidades, sin embargo, podemos hablar
de una larga historia de los efectos de esta narrativa de las águas diluvianas, del barquero
inteligente y su conducción salva vidas. El nombre del personaje principal cambia al
llegar a un nuevo destino. En la Torá, los sacerdotes y los pensadores del antiguo Israel
le llaman Noah / Noé; una sura del Corán habla de la historia de Nuh. Las diferentes
versiones tienen siempre como tema el final de una crisis con amenazas extremas a
las personas que se entienden las destinatarias y narran la llegada de lo nuevo, donde
los supervivientes pasan por el caos en la barcaza de seguridad, proporcionada por la
divinidad salvadora. Esta voluntad salvífica de Dios expresada en Noé y su arca, que
se extiende a toda la tierra, ¿todavía se puede superar? ¿No debería ser contada sólo
como una historia llena de gracia? ¿Por qué los escritos del Nuevo Testamento ponen
de relieve en la historia de Noé y su arca apenas la analogía “como en los días de
Noé!” y no rescatan la promesa insuperable que garantiza ”no habrá diluvio jamás paradestruir la tierra”? Como se señaló en el Nuevo Testamento, también en el Corán el
profeta árabe ha visto una analogía entre “los días de Noé” con los tiempos de luta con
sus oponentes, especialmente al comienzo de su actividad pública en la ciudad de Meca.