Era uma noite de inverno e os termómetros não precisavam anunciar. Todos já sentiam, é certo que uns muito mais que os outros, a frieza daquela noite. Se nós, nas ruas, falásse mos, mesmo que baixinho, uma densa fumaça branca sairia de nossas bocas e narinas. Se nos tocássemos, fora do cobertor, a ponta de nossos dedos se enrugariam imediatamente. Se nos beijássemos, nossas línguas se secariam, nossas bocas se rachariam. Se, por algum deslize, escorregássemos para o chão, fora do papelão úmido, congelaríamos. No entanto, tudo isso pouco importava, não poderiam impedir o toque carinhoso, pois arriscaríamos o infortúnio de qualquer modo, implicitamente já havíamos prometido aquecer um ao outro em todas as noites frias, seja com os olhos, com as mãos, com a boca ou simplesmente com o amor.