Este trabalho enfoca um denso universo de relações estabelecidas entre as sócias da Sociedade de Beneficiência de Buenos Aires e um variado grupo de mulheres vinculadas ao mundo do trabalho urbano que foram, em algum momento, identificadas como suas tuteladas, entre 1852 e 1870. Através de fontes judiciais, documentação oficial da própria Sociedade de Beneficiência, e de cartas e pedidos dirigidos à Sociedade por parte de trabalhadoras em busca de ajuda econômica, busca-se reconsiderar alguns pressupostos da historiografia sobre beneficiência, filantropia e caridade. Ao considerar estas práticas unicamente como formas de disciplinamento e controle social, esta produção acadêmica perdeu de vista os complexos encontros culturais que se davam entre mulheres diferentes sob o rótulo de “beneficiênciaâ€. Neste registro, alguns conceitos, como o de virtude, foram fundamentais para viabilizar e modelar as relações de gênero e classe entre estas mulheres.