O presente artigo tem como objetivo refletir sobre transformações recentes nas práticas de consumo midiático ligadas à emergência de mídias alternativas, e como as mesmas afetam os processos de criação e legitimação de uma forma dispersa de poder, tradicionalmente associado aos meios de comunicação de massa. O mito de que meios de comunicação como a TV, o rádio e o jornal funcionam como ligação para uma espécie de “centro do social” tem sido convenientemente endossado pela indústria midiática ao longo da história, uma vez que legitima formações identitárias e modos de narrativa que maximizam interesses comerciais (COULDRY, 2012; TURNER, 2010). O ordenamento de ações cotidianas a partir de categorias baseadas na divisão entre o que está relacionado à mídia, e o que não está, desempenha papel estruturador de uma dinâmica tipicamente contemporânea de poder. Esta dinâmica, contudo, tem se modificado com a popularização das redes sociais na internet. Se, por um lado, o surgimento de novas práticas da audiência têm diversificado as possibilidades de organização do social, por outro, elas parecem reforçar antigas formas de ritualização midiática responsáveis pelo papel preponderante que os meios massivos de comunicação ainda desempenham na sociedade atual.
This article aims to reflect on recent transformations in media consumption practices linked to the emergence of alternative media, and how they affect the processes of creation and legitimation of a dispersed form of power traditionally associated with the mass media. The myth that media such as TV, radio, and the newspaper function as a link to a kind of "social center" has been conveniently endorsed by the media industry throughout history, since it legitimates identity formations and modes of narrative that maximize commercial interests (COULDRY, 2012; TURNER, 2010). The ordering of everyday actions from categories based on the division between what is related to the media, and what is not, plays the structuring role of a typically contemporary dynamics of power. This dynamic, however, has changed with the popularization of social networks on the Internet. If, on the one hand, the emergence of new audience practices has diversified the possibilities of social organization, on the other, they seem to reinforce old forms of media ritualization responsible for the preponderant role that mass media still play in today's society.