Entre os filósofos europeus que contribuíram para o reducionismo ideológico e eurocêntrico que “desafricaniza” o Egito, destaca-se o alemão Georg W. F. Hegel (1770-1831). Em sua obra Lições sobre a História Universal, Hegel traça o itinerário de desenvolvimento do Espírito Universal que percorre a história, desde o mundo oriental, chegando por fim à Europa. Ao falar sobre a transição do mundo oriental ao mundo grego, destaca a civilização egípcia e seu lugar na marcha da história, onde esta ao mesmo tempo distancia-se do chamado “espírito africano” e prepara o surgimento do “espírito grego”. Desta forma, o Egito é distinto da África em seu aspecto histórico e filosófico. O Egito é apresentado como “a terra dos mistérios”, que tem como figuras representativas e simbólicas a deusa Nuit e a Esfinge, a primeira, cujo véu esconde suas origens, e a segunda, como representação de uma natureza híbrida entre os aspectos da naturalidade e da espiritualidade. Neste breve artigo, pretendemos mostrar como o Egito aparece na obra de Hegel simbolizando a transição e a passagem do mundo natural e substancial oriental para a luz e o autoconhecimento do mundo grego, negando assim sua vinculação com a África, reduzida a um apêndice da história oriental, escancarando assim a ideologia racista e eurocêntrica que construiu uma imagem negativa da cultura africana, elemento fundamental para legitimação do colonialismo.
Among the European philosophers who contributed to ideological and Eurocentric reductionism that “desafricanize” Egypt, the German Georg W. F. Hegel stands out (1770-1831). In his Lessons on Universal History, Hegel traces the path of development of the Universal Spirit that goes through history from the Eastern world to Europe. Talking about the transition from the Eastern world to the Greek world, he emphasizes the Egyptian civilization and its place in the march of history, where it at the same time distances itself from the so-called “African spirit” and prepares the emergence of the “Greek spirit”. Thus, Egypt is distinct from Africa in its historical and philosophical aspect. Egypt is presented as “the land of mysteries”, whose representative and symbolic figures are the goddess Nuit and the Sphinx, the first, whose veil hides its origins, and the second, as a representation of a hybrid nature between aspects of naturalness and spirituality. In this brief paper we intend to show how Egypt appears in Hegel's work symbolizing the transition and the passage from the natural and substantial Eastern world to the light and self-knowledge of the Greek world, thus denying its attachment to Africa, which is reduced to an appendix of history. Thus, it opens up the racist and Eurocentric ideology that built a negative image of African culture, a fundamental element for the legitimation of colonialism.