O  TRABALHO  DE  CAMPO  COMO  CAMINHO  METODOLÓGICO:  TESTEMUNHOS  E  INTERPRETAÇÕES  DE  UMA  MARCHA  INDÍGENA POTIGUARA

OKARA: Geografia em debate

Endereço:
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Departamento de Geociências
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Telefone: (83) 32167742
ISSN: 1982-3878
Editor Chefe: Richarde Marques da Silva
Início Publicação: 31/05/2007
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Geografia

O  TRABALHO  DE  CAMPO  COMO  CAMINHO  METODOLÓGICO:  TESTEMUNHOS  E  INTERPRETAÇÕES  DE  UMA  MARCHA  INDÍGENA POTIGUARA

Ano: 2008 | Volume: 2 | Número: 1
Autores: Amanda Christinne Nascimento Marques, Maria de Fátima Ferreira Rodrigues
Autor Correspondente: Amanda Christinne Nascimento Marques | [email protected]

Palavras-chave: Indígenas, movimentos sociais, trabalho de campo

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

“Potiguara é guerreiro, Potiguara é quem vai ganhar! Guerreia na terra e guerreia
no mar, Potiguara é quem vai ganhar!”. Este refrão foi repetido em tom enfático
pelos índios Potiguara da aldeia Três Rios, localizada no município de Marcação –
PB, ao comemorarem o reconhecimento do seu território tradicional. A razão
dessa comemoração foi a divulgação da portaria declaratória nº 2.135/07 do
Ministério da Justiça, assinada em Dezembro de 2007. Pintados de vermelho e
preto, munidos de cocares e sob as chuvas de Janeiro, os Potiguara, na marcha de
comemoração e no ato público, revelaram a complexidade das relações
intersocietais que os aproximam ou distanciam de outros povos tradicionais e da
sociedade envolvente. Partindo desse contextoeste ensaio tem o objetivo de
interpretar  a marcha indígena potiguara a partir de seus significados simbólicos e
políticos. Do ponto de vista metodológico utilizamos para a compreensão espacial
da referida marcha, os registros obtidos no campo constituídos em seu todo por
escritos feitos nos cadernos de campo, fontes iconográficas (fotos, desenhos e
croquis), vídeos, dentre outros materiais. Para fundamentar a nossa narrativa
utilizamos como referência autores como Serpa (2006), Rodrigues (2007) e
Lacoste (1977) que trabalham diferentes concepções de trabalho de campo na
ciência geográfica; além de Geertz (1989), Oliveira (2006) e Moura (1992) que
discutem o trabalho de campo como um exercício etnográfico na Antropologia.
Ao analisarmos a marcha consideramos que a mesma revela dimensões da
territorialidade étnica dos índios Potiguara. A forma como estes expõem e
dialogam com o espaço exterior utilizando os elementos inerentes a sua cultura
demarca uma fronteira étnica. Tal fronteira é apresentada como extensão de um
universo singular dos indígenas por   meio das indumentárias, dos adereços, das
pinturas corporais, das palavras de ordem, da musicalidade, dos ritmos e das
composições que os acompanham. Por meio dos vários elementos simbólicos,
movimentos e dinâmicas territoriais, os Potiguara criam e recriam no imaginário
social, características historicamente marcantes do seu povo como grupo
etnicamente diferenciado. Dentre essas características reconhecidas socialmente
cabe destacar o princípio da união e da solidariedade que marcam o viver em
comunidade. Este princípio congrega os indígenas de forma igual internamente ao
vivenciarem a luta, mas, ao mesmo tempo, os diferencia do ponto de vista da
individualidade, dos desejos e das utopias em relação a sociedade envolvente. A
marcha é, em seu acontecer, uma representação simbólica direcionada ao outro,
ou seja, ao não índio. É a reafirmação de uma identidade que se faz resistente,
recriada e diacrítica.