No artigo a autora pretende demonstrar, aproveitando como exemplos fragmentos dos folhetos de literatura de cordel nordestina, que, apesar do Diabo/Demônio/Satanás ser na tradição judaico-cristã uma criatura racional, incorpórea, que tem por objetivo a maldade, ele aparece muitas vezes na literatura de cordel como um personagem amistoso, compreensível frente às falhas humanas, às vezes até tentando prevenir os homens de errar e acabar no inferno superpovoado. Os poetas populares da literatura de cordel sabem apresentar o Diabo de uma perspectiva contrária à fé cristã e à doutrina católica, quase como amigo dos homens, companheiro em dificuldades e desgraças deste mundo. Ao mesmo tempo, fazê-lo sem perder qualidades demoníacas de assombrar e assim, provocar conversões, cumprindo desta maneira nas narrativas populares em verso uma função importantíssima: a de socialização no quadro normativo cristão do sistema de crenças tradicionais inerentes à religiosidade popular do Nordeste. A sui generis “subcultura” regional forte do catolicismo brasileiro, vigente ainda hoje nas camadas populares.