Resumo
O estudo da recepção das obras e ideias de Maquiavel no Brasil revela que, somente na década de 1930, foi publicado, pela primeira vez no âmbito da lusofonia, O prÃncipe. No entanto, desde o Quinhentos, na Europa, e apesar de sua inserção em 1559 no Index dos livros proibidos, a obra vinha sendo publicada e circulava de várias maneiras. Longe de aproveitar-se da possibilidade de fazer jus — depois de quase quatro séculos — ao fundador da ciência polÃtica moderna, a tradução de 1933, proposta pela editora carioca Calvino Filho, é apresentada por um prefácio de Mauricio de Medeiros. Mesmo engajado na luta para a liberdade e contra o autoritarismo de Getúlio Vargas, seu prefácio, analisado pelo viés paratextual, revela-se destinado a reafirmar, ainda no século XX, a tradicional interpretação da obra maquiaveliana, imposta, a partir dos nÃveis linguÃstico e lexicográfico, pelos (não propriamente libertários) inquisidores portugueses.