Em nosso país estamos passando por tempos difíceis, não me refiro aqui apenas a pandemia do Sars-CoV-2 ou ao abismo educacional desvelado com por ela, mas também ao fortalecimento de movimentos ultraconservadoresque “criam necessidades" de se revisitar entendimentos e compreensões consolidadas do paradigma científico, ou seja, esses movimentos tensionam a negação do conhecimento científico na sua função promotora do desenvolvimento humano e social. O fenômeno do racismo é um bom exemplo da tentativa de desconstrução de constructos teóricos, operando ainda de forma a não apenas negar a sua existência, mas também de flexibilizá-la, possibilitando uma inversão do fato social concreto na idealização de uma suposta perspectiva teórica-histórica de preconceito e discriminação aos indivíduos não negros, assim temos a criação do racismo reverso. O ensaio aqui proposto busca problematizar esse “conceito” de racismo reverso dentro da perspectiva histórico-social, evidenciando o equívoco apresentado em sua concepção. Para tanto nos utilizamos apoiamos na abordagem da pesquisa documental integrante do regramento jurídico ao longo da história do Brasil como elemento constitutivo de análise. Conceber a existência da ideia do “racismo reverso” significa negar veementemente o contexto histórico-cultural da sociedade brasileira, possibilitando um enfraquecimento dos debates e da agenda antirracista nacional.
In our country we are going through difficult times, I am not referring here only to the Sars-CoV-2 pandemic or the educational abyss unveiled by it, but also to the strengthening of ultraconservative movements that "create needs" to revisit consolidated understandings and comprehensions of the scientific paradigm, that is, these movements tension the negation of scientific knowledge in its function as promoter of human and social development. The phenomenon of racism is a good example of the attempt to deconstruct theoretical constructs, operating not only to deny its existence, but also to make it more flexible, enabling an inversion of the concrete social fact in the idealization of a supposed theoretical-historical perspective of prejudice and discrimination against non-black individuals, thus creating reverse racism. The essay proposed here seeks to problematize this "concept" of reverse racism within the social-historical perspective, highlighting the equivocation presented in its conception. To do so, we use the documental research approach integrating the legal regulations throughout the history of Brazil as a constitutive element of analysis. Conceiving the existence of the idea of "reverse racism" means vehemently denying the historical-cultural context of Brazilian society, making possible a weakening of the debates and of the national anti-racist agenda.