Um arquivo não é imóvel, mas um conjunto de rastros que são ressignificados, na sincronia do processo de memória. O filme constitui-se como narrativa cuja tessitura se dá a partir de arquivos. Posto isso, este artigo propõe uma leitura do filme brasileiro Boi neon (2016), dirigido por Gabriel Mascaro. A representação da ambiguidade do protagonista, entre os gestos rústicos no preparo dos bois nas vaquejadas do interior do nordeste e a sensibilidade do design de roupas femininas, parece constituir uma masculinidade multifacetada, o que confronta o arquivo de um paradigma heteronormativo das performatividades de gênero. Essas novas perspectivas parecem possibilitar (re)escritas e (des)contextualizações dos arquivos sobre esses sujeitos outrora legados à opressão.