Este trabalho apresenta a análise do discurso de cinco narrativas do livro As cidades invisÃveis, de Ãtalo Calvino, que, reunidas sob o tÃtulo As cidades e as trocas, descrevem as cidades de Eufêmia, Cloé, Eutrópia, ErcÃlia e Esmeraldina. O livro apresenta onze tÃtulos, que nomeiam cinco narrativas cada um. No grupo escolhido, identificamos a presença da mitologia, na figura do deus Hermes, Mercúrio ou Thoth, do sincretismo greco-romano-egÃpcio, por quem Calvino declarou seu interesse mais de uma vez. Essa referência, explÃcita no discurso de Esmeraldina e Eutrópia e implÃcita em Eufêmia, Cloé e ErcÃlia, despertou nosso interesse em investigar como o discurso estabelece ligações com Mercúrio – considerado, entre outras coisas, o deus das estradas, do comércio, da comunicação, da transformação e das trocas; e, como ele é nomeado por Calvino em Eutrópia: o “deus dos volúveisâ€. Por meio do exame dos temas, figuras e isotopias, conceitos mobilizados pela semiótica francesa (ou greimasiana), e de sua articulação com a noção de interdiscurso, oriunda da análise do discurso francesa (AD), buscamos verificar o diálogo que se instaura entre o discurso literário e o discurso mÃtico. Alguns dos princÃpios apresentados na Tábua esmeraldina – texto supostamente atribuÃdo a Hermes e que nomeia uma das cidades – auxiliaram-nos a confirmar esse diálogo interdiscursivo que é trazido para o fio do discurso de Calvino (o intradiscurso) e que se mostra compatÃvel com a recorrência de certos temas extraÃdos do referido grupo de narrativas. As análises também possibilitaram associações com o conceito de rizoma, proposto por Guattari & Rolnik, que é figurativizado por Calvino nas descrições de linhas e formas, indicando que a obra dialoga tanto com o antigo quanto com o contemporâneo, trafegando entre a memória e a mobilidade de reconfigurações de valores e comportamentos.