O discurso de Paulo em Atenas (Atos 17,16-34) é um dos primeiros textos em que se trata diretamente da relação entre gregos e cristãos. O discurso é emblemático, pois representa o primeiro encontro entre filosofia grega e fé cristã no interior do Novo Testamento. Ao ler o livro dos Atos dos Apóstolos, nos defrontamos com inúmeras situações de confronto entre judeus convertidos e gentios, onde se disputa sobre as obrigações destes últimos de seguir as práticas legais e rituais do judaísmo (como por exemplo, a circuncisão e a guarda do sábado). O discurso de Paulo em Atenas se dá por volta do ano 50-52 d.C., no Areópago, onde Paulo percebe o temor supersticioso (deisidaimonia) dos gregos, pois encontrou na cidade imagens para todas as divindades, incluindo uma dedicada ao ‘Deus desconhecido’ (agnôstô Theô), o qual ele utiliza como argumento para seu discurso, seus interlocutores são os filósofos epicuristas e estóicos. Estas escolas filosóficas, que estavam em voga na época, podem servir como mote para reflexão sobre as concepções de Deus dos judeus e gregos, bem como sua relação com a discussão filosófica na antiguidade tardia. Podemos perceber no discurso de Paulo influências do pensamento estóico, a partir dos temas tratados e da citação do filósofo estóico Cleantes (sec. IV a.C.), bem como da proximidade entre as ideias do apóstolo e do filósofo Sêneca (sec.I). Pretendemos de forma breve expor em que condições este encontro supostamente aconteceu e como ele serve de paradigma para compreender melhor a relação entre fé cristã e filosofia no mundo antigo.
Paul’s speech in Athens (Acts 17.16-34) is one of the first texts that directly addresses the relationship between Greeks and Christians. The speech is emblematic, as it represents the first meeting between Greek philosophy and Christian faith within the New Testament. When reading the book of Acts, we are faced with numerous situations of confrontation between Jewish converts and Gentile, where dispute over the obligations of the latter to follow the legal practices and rituals of Judaism (such as circumcision and Sabbath keeping). Paul’s speech in Athens takes place around the year AD 50-52, in the Areopagus, where Paul realizes superstitious awe (deisidaimonia) of the Greeks, as found in the city images for all deities, including one dedicated to the 'unknown God' (agnôstô Theo), which he uses as an argument for his speech, his interlocutors are the epicurean and Stoic philosophers. These philosophical schools, which were in vogue at the time, can serve as a theme for reflection on the concepts of God of the Jews and Greeks, as well as its relation to the philosophical discussion in late antiquity. We can notice in the speech of Paul influences of the Stoic thought, from the themes treated and citation Stoic philosopher Cleanthes (sec. IV BC) as well as the proximity of the ideas of the apostle and the philosopher Seneca (sec.I). We intend to briefly explain under what conditions this meeting supposedly happened and how it serves as a paradigm to better understand the relationship between Christian faith and philosophy in the ancient world.