O presente texto, de caráter aberto e propositivo, questiona a espécie de obliteração da materialidade sonora da linguagem (enquanto som, oralidade ou música) operada por diferentes campos disciplinares que tomam a língua enquanto objeto de reflexão e produção de saberes. Trata-se, especialmente, de pensar como um determinado conceito de língua operado pela Linguística acaba por furtar-se ao trabalho com a oralidade enquanto materialidade (o que não impede que a oralidade, a sonoridade ou a fala sejam amplamente discutidas, ainda que, por exemplo, sob o aspecto de metáforas – caso de Bakhtin – ou como uma “imagem acústica” – caso de Saussure). O exercício pretendido busca, ainda, imiscuir-se no campo da Antropologia, dialogando com alguns de seus teóricos que propuseram abordagens para o som e refletiram as relações e dissociações entre som e linguagem (especialmente Tim Ingold e Steven Feld), de forma a apontar outros caminhos que deem a ver as possibilidades reflexivas e teóricas oferecidas pela investigação das relações entre som e linguagem.