O DISCURSO MÉDICO E A CONSTRUÇÃO DA IDEIA DE SEXO FRÁGIL NO BRASIL OITOCENTISTA

Ano: 2012 | Volume: 12 | Número: 1

Autores: E.M.Verona

Palavras-chave: Discurso médico; padrões de feminilidade; século XIX; histerismo./ Medical discourse; patterns of femininity; nineteenth century; hysteria.

Resumo Português:

Este estudo propõe-se à
análise de discursos médicos produzidos a partir do final da primeira
metade do século XIX, sobretudo os
referentes à mulher, com enfoque
para a construção da ideia de sensibilidade feminina. Abordaremos os
argumentos médicos que buscam
justificar a inferioridade intelectual
da mulher e sua maior suscetibilidade
nervosa. Além desses aspectos, o artigo também explora o ponto de vista
dos doutores em medicina do período a respeito de outras questões, tais
como as diferenças entre os sexos, as
características do amor conjugal, a
maternidade e a amamentação, e discute a razão desse interesse especial
da medicina oitocentista por assuntos
relacionados à mulher. Outro tema
relevante na documentação analisada
diz respeito aos tipos femininos que se
afastavam do modelo ideal de mulher
e que, por esse motivo, eram percebidos como uma ameaça à paz doméstica e à harmonia do lar, base sob a qual
se poderia estruturar uma sociedade
dita “civilizada”. Os meios de melhor
educar a mulher para o exercício de
suas respectivas funções sociais foram,
nesse sentido, detalhadamente explorados por nossos doutores, já que partilhavam a crença segundo a qual uma
educação moral bem conduzida era
fundamental para contornar o problema da “fraca imaginação” feminina.
A relevância desses discursos para o
período em questão decorre de uma
investida da medicina pela legitimação
de seu saber em território brasileiro.

Resumo Inglês:

This study proposes the
analysis of medical discourses produced during the end of the first half
in the nineteenth century, mainly the
ones related to women, emphasizing
the construction of the female sensibility idea. It will be approached
medical arguments which aim to justify women’s intellectual inferiority
and their larger nervous susceptibility. Besides these aspects, the article
also explores medical doctors’ point
of view from this period concerning
other issues, such as differences between the sexes, the characteristics
of marital love, maternity and breast
feeding, and discusses the reason of
this particular interes t within the
nineteenth century medicine in issues
related to women. Another relevant
issue in the documents analyzed, re
gards to the feminine types which
differed from the ideal woman at the
time, therefore, were perceived as a
threat to the domestic peace and harmony at a house, which used to be the
basis for a so-called “civilized” society
to be structured. The best forms for
women to be educated when exercising their social functions were, in this
sense, minutely explored by our doctors, once they shared the belief that
a well-conducted moral education was
essential to avoid the female’s “weak
imagination”. The relevance of these
studies to the period mentioned elapses of a medicine investment on the le
gitimacy of its knowledge.