Heidegger entende a “Era da Técnica†como a consumação da metafÃsica do sujeito, como a derradeira
manifestação de um modo de ater-se ao real, cuja caracterÃstica é a redução de tudo à condição de objeto para manipulação e cálculo. A violência desta racionalidade calculadora forja um modo contemporâneo de compreensão da realidade, marcado pelo imperativo do progresso, pela meritocracia,
pela erradicação do mistério, em suma, pela redução do real a um fundo de reserva disponÃvel. Para Heidegger, a compreensão técnica da realidade encobre a finitude e a vulnerabilidade humana, na medida em que submete o seu existir à ditadura do êxito, do progresso e bem-estar. Mesmo não fazendo uma análise ontológica da contemporaneidade — pelo fato óbvio de não ser um filósofo, mas um cientista — Winnicott, em A pÃlula e a Lua, esboça uma crÃtica a este progresso desenfreado que, por exemplo, finca uma bandeira esticada na lua, ao passo em que tende a lhe subtrair beleza poética. Nesse artigo, pretendemos não só tecer considerações sobre possÃveis proximidades entre a análise de Heidegger
e a de Winnicott acerca da contemporaneidade, mas, sobretudo, pretendemos perguntar como esta análise pode lançar luzsobre o entendimento do que Winnicott conceitua como falso-self prodigioso, cuja marca é uma hipertrofia do intelecto.
Heidegger understands the “Age of Technique†as the accomplishment of the metaphysics of the subject,
as the ultimative manifestation of a form of sticking to the real, whose characteristic is the reduction of everything tothe status of the object for manipulation and calculation. The violence of this calculating rationality forges a contemporary mode of understanding of reality marked by the imperative of progress, by meritocracy, by the eradication of the mystery, or in short, by the reduction of the real to a disposable resource fund. For Heidegger, the technical understanding of
reality caches the human finiteness and vulnerability to the extent to which it sumits its existence under the dictatorship of prosperousness, progress and well being. Even not conducting an ontological analysis of contemporaneity - through the obvious fact of not being a philosopher but a scientist -
Winnicott drafts, in his The Pill and a Moon, a critique on this unreined progress, which, for instance, plants an upright flag on the moon taking away its poetic beauty at the same time.
In this article, we intend not only to present considerations about possible proximities between the analysis of Heidegger
and Winnicott regarding contemporaneity, but also to ask
how this analysis can illuminate the understanding of what
Winnicott delineates as prodigious false-self, whose attribute
is a hypertrophy of intellect.