Este artigo faz um balanço do ciclo dos chamados “governos progressistas” na América Latina, comumente denominado de “onda rosa”. Analisa o esgotamento do referido ciclo, sugere terminologias a partir das quais se pode compreender o fenômeno, e aborda as alternativas conservadoras que vão se impondo. Trata-se em grande medida de uma análise de conjuntura, acrescida de alguns apontamentos mais gerais em torno do conceito de “neogolpismo” e suas variantes. Para que fazer uma análise de conjuntura? Para discutir a realidade em seu momento e buscar intervir nela, o que os cientistas sociais latino-americanos procuraram fazer ao longo de quase toda sua história de intelectuais em países periféricos e profundamente desiguais – no entanto, quase não o fizeram nas últimas décadas. Ainda que sabendo que nossa capacidade de influir na realidade e de prevê-la é reduzida, em grande medida porque os óculos das nossas disciplinas e em particular da Ciência Política nem sempre foram fabricados para nossas realidades específicas, muitas vezes distorcendo-as.