Kierkegaard é o pensador por excelência do indivíduo singular. Esta pode ser considerada a categoria central do seu pensamento e o fio condutor das suas obras. Para Kierkegaard, ser um indivíduo singular não é um privilégio de poucos. Representa uma possibilidade universal. A tarefa existencial de cada pessoa consiste em tornar-se um indivíduo singular. Kierkegaard usa a categoria do indivíduo singular para analisar criticamente as profundas transformações sociais que se operaram com o desenvolvimento da ciência, da industrialização e dos meios de comunicação social, nomeadamente a emergência da sociedade de massas e as tendências de despersonalização a ela inerentes. Kierkegaard é frequentemente criticado por advogar um individualismo radical que menospreza a dimensão social inerente à existência humana. Se é verdade que existem passagens nas obras de Kierkegaard que justificam a crítica de excessivo individualismo, a concepção do indivíduo solitário diante de Deus deve ser interpretada como um corretivo às distorcidas formas de sociabilidade que se observam nas sociedades massificadas da época moderna e não tanto como desapreço pela dimensão social da existência humana.