Em um artigo de 1912, Spielrein apresenta ideias que se tornarão fundamentais para Freud a partir de 1920: o instinto de morte e a suposição de que haveria um funcionamento psíquico mais primitivo do que aquele regido pelo princípio do prazer. Já no final dos anos 1960, o filósofo Deleuze apoia-se nos argumentos de Freud, particularmente no texto Além do princípio de prazer (1920), para conceber o instinto de morte como princípio transcendental. O objetivo deste artigo é aproximar estes dois autores, Spielrein e Deleuze, que se conectam por meio do conceito de instinto de morte, justamente no ponto em que mais parecem se afastar das concepções freudianas. Apesar de desenvolverem suas ideias em diálogo com Freud, tanto Spielrein como Deleuze divergem dele ao insistirem na proposição de um inconsciente impessoal e na dissolução do eu como fundamento da criação.
In an article of 1912, Spielrein presents ideas that will become fundamental to Freud in 1920: the death instinct and the assumption that there would be a more primitive psychic operation than the one governed by the pleasure principle. In the late 1960s, the philosopher Deleuze relies on Freud's arguments (more specifically on the 1920’s essay Beyond the Pleasure Principle) to conceive the death instinct as a transcendental principle. The aim of this article is to bring together Spielrein and Deleuze, who are connected through the concept of the death instinct precisely at the point where they seem to most distance themselves from Freudian conceptions. Although they develop their ideas in dialogue with Freud, both Spielrein and Deleuze diverge from him by insisting on the proposition of an impersonal unconscious and on the dissolution of the self as the foundation of creation.