O artigo dá conta da utilização ambivalente do referencial islâmico no seio de empresas deslocalizadas para o Marrocos. Por um lado, a direção da empresa procura alienar as operárias por meio da invocação do Islã como religião da ordem e exortando-as ao trabalho, apresentado como ato da fé. Por outro lado, as operárias empregam a religião muçulmana como filosofia de vida e forma de "se proteger" dos imprevistos da vida profissional (precariedade do seu estatuto e imprevisibilidade da sua condição). Tal divergência é um elemento estruturante da vida da empresa transferida. Permanece o fato de que a regulação no trabalho pode resultar no desenvolvimento de racionalidades contestatórias pelas operárias, conscientes da vulnerabilidade da sua "condição de classe".