A construção do poder local, a disputa pelos arranjos de governança dos espaços dentro dos quais se organiza a vida de muitas pessoas, é um longo processo sócio-histórico. No Brasil, estimuladas pelos avanços da Constituição de 1988, expressões como orçamento participativo, inversão de prioridades, gestão democrática e governo popular, usadas inicialmente por governos de perfil de esquerda, mas depois também pelos de centro-esquerda e de centro, são cada vez mais freqüentes em encontros e debates sobre a ação pública em âmbito local. Tais expressões demonstram a viabilidade de outra prática administrativa, voltada para os direitos individuais e coletivos. Local não é necessariamente sinônimo de municipal. Numa série de encontros recentes sobre a temática da redução da pobreza, a palavra que emergiu como mais adequada para aludir a esse espaço de ação é lugar, um horizonte de ligações, de produção de sentido e de lutas, que pode ser submunicipal, municipal, intermunicipal ou microrregional. Para a teoria organizacional, o foco no lugar como espaço de ação evidencia uma série de questões pouco abordadas. Este trabalho busca uma aproximação inicial com essa temática, para demonstrar seu potencial na reelaboração do fenômeno organizacional como um todo.
In Brazil, the process of building an effective local level of governance has been taking place for a long time. More recently, stimulated by the 1988 constitution, terms such as participative budgeting, priority inversions and democratic governance are increasingly being used in technical debates and statements by political leaders. They reflect the viability of a different administrative practice, focussed on individual and collective rights. Local, however, is not necessarily synonymous with municipal. In a series of meetings that took place on the topic of povertry reduction, the term that seemed to better describe what was happening was place, a horizon of links, of meaning production and conflicts that could be submunicipal, municipal or intermunicipal in form. For organizational theory, the focus on place as a space for action throw light on a series of questions not normally focussed and may allow a different approach to the study of the organization as a social phenomenon.