O texto que segue apresenta uma etnografia do modo de fazer religião das mulheres. Digo `das` mulheres para dizer daquelas que no contexto religioso contemporâneo no Brasil assumem movimentos protagônicos. Pesquisas anteriores verificaram o fenômeno das mulheres que fundam suas próprias igrejas nas periferias de grandes cidades brasileiras. Esta pesquisa se confronta com o evento de pequenas igrejas criadas por mulheres em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. A fundamentação teórico metodológica se pautou na etnografia feminista, na teoria descolonial e no feminismocomunitário. Os resultados da pesquisa apontam que as mulheres pastoras criam uma religião como resposta a insatisfação, perseguições e tomam a decisão de desertar de um sistema religioso de padrão patriarcal colonial moderno em que não há lugar para mulheres com habilidades de liderança, dons e poderes espirituais. Elas desertam. Neste contexto, elas criam uma ruptura e uma ‘fuga’ de um sistema religioso opressivo. Seu modo de fazer religião, o como elas fazem, implica, então, a criação de pequenos refúgios – igrejas/religiões/comunidades de proteção. Seu modo de fazer religião passa pela criação de pequenas comunidades: uma proposta político-espiritual. São comunidades que se reúnem em uma pequena casa alugada ou na própria casa da pastora; criam uma religião em chave doméstica: domesticam a religião; criam uma religião de pequenas comunidades pautadas no afeto, na proximidade, na gestão vincular. As igrejas/religiões/comunidades das pastoras serão projetos disfuncionais ao capital, como afirma Rita Segato, não coadunam com o projeto do capital, o projeto dos grandes templos e organizações religiosas. Funcionam como religiosidade doméstica, e a religiosidade doméstica precisa atender as demandas do cotidiano. Estas demandas têm a ver com trabalho/emprego, com saúde/cura, com relações vínculos/afeto/proximidade vincular-comunidade, cuidado e proteção das pessoas