Nosso artigo analisa e compara os contos ―El niðo que no sabía jugar‖ e ―La niða fea‖ de Ana María Matute com o fim de mostrar como a autora espanhola, prêmio Cervantes de 2010, se vale do modelo arquetípico da narrativa tradicional através de diferentes transgressões e desvios do mesmo, produzindo um efeito irônico que exprime, por um lado, a contradição da condição humana entre o ideal e o real e, por outro, a negatividade da realidade social e histórica da Espanha contemporânea, contexto ao qual se refere a escritora. Mediante o deslocamento e a transformação irônica do arquétipo do herói do conto maravilhoso primordial, da força de imagens simbólicas, míticas e poéticas, a economia da narrativa breve de Matute logra intensificar a dialética patética entre o tradicional, o normal, a estabilidade ideal e o extraordinário, o desajustado, as injustiças do mundo concreto, expressando a distância inexorável entre nossa condição humana e os feitos heroicos imaginários. Finalizamos o artigo com uma breve apresentação dos temas e estilo da autora conforme um estudo de sua fortuna crítica