A história do Brasil como é habitualmente contada torna inteiramente inviável pretender compreender a importância dos indÃgenas na fundação da colônia bem como na construção da nacionalidade. Sem que
se exerça sobre ela uma crÃtica radical, apontando sua ineficácia enquanto instrumento descritivo e analÃtico, explicitando os pressupostos polÃticos e ideológicos em que se assenta, rompendo com o paradigma historiográfico existente, é impossÃvel compreender os processos atuais de mobilização polÃtica, re-elaboração cultural e demarcação identitária pela qual passam as populações indÃgenas do nordeste, área onde começou a colonização do paÃs. A categoria de “pacificaçãoâ€, que constituiu
um dos pilares básicos da polÃtica colonial e ainda hoje se expressa na classificação dos indÃgenas segundo um gradiente que vai de “isolados†a “integradosâ€, só tem valor militar e administrativo, não analÃtico. As narrativas e interpretações produzidas pela história oficial sobre os indÃgenas
desconhecem por completo a especificidade dos seus pontos de vista e de suas estratégias. Classificam de forma maniqueÃsta, através da oposição extermÃnio e proteção, as ações e episódios em que estão
envolvidos os indÃgenas sem chegar a uma compreensão efetiva do espaço polÃtico que ocuparam e das múltiplas formas de resistência que colocaram em prática. Ao assim proceder tal discurso revela-se como
peça fundamental para legitimar a tutela,naturalizando-a, e persistindo em ignorar as vozes e iniciativas dos indÃgenas reais.