No presente trabalho, buscou-se analisar como o discurso produz uma imagem do amor interracial entre homens negros e mulheres brancas. Entendendo a colonialidade como ideologia determinante da sociedade brasileira, fundamentada no racismo, é imprescindívelanalisar como funcionam os mecanismos de significação da ideologia racista. À luz da Análise de Discurso materialista, desenvolvida a partir de Michel Pêcheux (2019 [1969]), analisaram-se letras das canções “Patricinha do Olho Azul” (2011), interpretada pelo Grupo Bom Gosto e “A loirinha, o playboy e o negão”, interpretada pela cantora Kelly Key (2003). Observou-se como são produzidas as imagens de homens negros e mulheres brancas e o modo como interagem dialeticamente as opressões de gênero (machismo), deraça (o racismo) e de classe (classismo), nas letras dessas canções. Tanto em uma canção quanto em outra, apresenta-se como necessária a justificação da eleição do amor de um homem negro por uma mulher branca, construindo-se assim uma argumentação que se baseia na cisão corpo racializado e alma (“sem cor”). Ao mesmo tempo em que o homem negro é validado “apesar de sua cor” por virtudes intrínsecas, é também valorizado por sua hipersexualidade.
The aim of this study was to analyze how discourse produces an image of interracial love between black men and white women. Understanding coloniality as the determining ideology of Brazilian society, based on racism, it is essential to analyze how the mechanisms of signification of racist ideology work. In the light of materialist Discourse Analysis, developed by Michel Pêcheux (2019 [1969]), we analyzed the lyrics of the songs "Patricinha do Olho Azul" (2011), performed by the Bom Gosto Group, and "A loirinha, o playboy e o negão", performed by the singer Kelly Key (2003). We observed how the images of black men and white women are produced and how the oppressions of gender (machismo), race (racism) and class (classism) interact dialectically in the lyrics of these songs. In both songs, the justification for a black man's choice of love for a white woman is presented as necessary, building an argument based on the split between the racialized body and the soul ("without color"). At the same time as the black man is validated "despite his color" for his intrinsic virtues, he is also valued for his hypersexuality.