Publicações, projetos de pesquisa e de extensão vêm crescendo cada vez mais em torno da relação entre filosofia e cinema. A linha mestra que tem guiado a maioria dessas produções pode ser resumida com a seguinte fórmula: utilizar filmes para ilustrar teorias filosóficas. Entre 1983 e 1985, Gilles Deleuze, já reconhecido como filósofo e historiador da filosofia (tendo escrito vários trabalhos monográficos nesse campo) publica dois volumes sobre cinema, Cinema 1: a imagem-movimento e Cinema 2: A imagem-tempo. Nesses livros, entre uma enorme lista de filmes, cineastas e correntes cinematográficas, figuram nomes de pensadores como Immanuel Kant, Friedrich Hegel, Friedrich Nietzsche, Henri Bergson, Charles Sanders Peirce, entre outros. Todavia, o trabalho de Deleuze parece muito distante da abordagem mais corrente acerca da relação entre filosofia e cinema, resumida acima. Gostaria de expor um pouco do percurso deleuzeano em sua originalidade. Para tanto, trabalharei com Bergson, Hitchcock e alguns nomes do neorrealismo italiano, como Rossellini e De Sica, em conexão com os seguintes temas percorridos por Deleuze na passagem da imagem-movimento à imagem-tempo: a falência do esquema sensório-motor e a posição ocupada simultaneamente por espectador e personagem.