O presente artigo apresenta um recorte da trajetória do poeta António Botto e a maneira como ele precisou reagir constantemente contra um campo literário que buscou desqualificar o seu projeto poético, principalmente por causa do teor homoerótico de suas composições. Desde as polêmicas da Literatura de Sodoma no começo da década de 1920, o poeta sofreu com as consequências dos discursos homofóbicos e heterossexistas que marcavam o ambiente cultural português da primeira metade do século XX. Embora tenha sido um evento aparentemente efêmero, durando poucos meses entre 1922 e 1923, o escritor sofreu represálias contínuas que propagavam ressonâncias do ocorrido, mesmo que indiretamente. Para isso, analisaremos um conjunto de textos, em prosa e verso, que tematizaram a resistência de Botto frente a uma crítica hostil à sua poesia, desde os anos vinte até o período do seu exílio no Brasil, quando ainda era possível perceber uma certa indisposição crítica contra ele.
This article examines the career of poet António Botto and the ways in which he was constantly forced to respond to a literary field that sought to disqualify his poetic project, primarily due to the homoerotic content of his work. Since the Literatura de Sodoma controversies of the early 1920s, Botto endured the consequences of the homophobic and heterosexist discourses that shaped the Portuguese cultural landscape in the first half of the 20th century. Although the controversy itself was seemingly short-lived, lasting only a few months between 1922 and 1923, the poet faced ongoing reprisals that echoed its effects, even if indirectly. To this end, this study analyzes a selection of prose and verse texts that reflect Botto’s resistance to hostile critiques of his poetry, from the 1920s to the period of his exile in Brazil, when traces of critical opposition to his work could still be observed.