O artigo versa sobre o modelo de transição implementado pelo Estado brasileiro e sua relação com os contornos e os modos de operar da democracia. Com foco nos efeitos de dominação, argumentamos que a perpetuação da autoanistia possibilita a continuidade e a atualização de mecanismos de modelação das condutas. Na análise a impunidade emerge como dispositivo de gestão da memória, das subjetividades e da política. No processo, sem desconsiderarmos as diferenças entre ditadura e democracia, assim como as lutas dos movimentos sociais por memória e justiça, observamos que o Estado ditatorial e as elites políticas parceiras foram hábeis na implementação de seu projeto de transição. Tiveram sucesso em nos impor pelo alto e sem rupturas profundas um modelo de democracia do tipo autoritário.