Para atingir o objetivo de comunicar e reportar os acontecimentos vividos pela sociedade, o
jornalismo lança mão de modelos de produção pré-estabelecidos. No modelo informativo,
que norteia quase que em sua totalidade, a prática do jornalismo brasileiro, a linguagem
adotada pelos veÃculos de comunicação – e pelo repórter – possui padrões rÃgidos. Há, porém,
um movimento de estÃmulo, partindo de estudiosos e profissionais da área, à apropriação
da linguagem pelos repórteres. Marcado pelo jornalismo literário, esse movimento
incentiva o uso de recursos da narrativa literária nos textos jornalÃsticos, com o objetivo de
levar à produção o estilo de escrita do jornalista autor. Este artigo analisa exemplos desse
uso, com foco na pontuação – mais precisamente no travessão – como recurso estilÃstico.
Para isso, vale-se, como objeto de estudo, de reportagens escritas pela jornalista Eliane Brum
e publicadas no livro O olho da rua: uma repórter em busca da literatura da vida real, destacando
e examinando trechos em que o uso do travessão colabora como marca de um
estilo caracterÃstico da autora. A base teórica que sustenta a análise constitui-se de estudos
linguÃsticos tradicionais e de uma obra que trata da pontuação como recurso estilÃstico. A
análise permite afirmar que, por meio de travessões, o enunciador inscreve-se em seu texto,
revelando sua visão de mundo e, com isso, produzindo sentidos.