O mito é uma forma arcaica, pré-cientÃfica e, assim, aproximativa de conhecimento? Essa é a pergunta da qual toma pretexto a presente reflexão. A resposta, negativa, emerge após algumas observações centradas sobre a tese que considera o homem um ser já completamente humano desde o inÃcio da sua vivência existencial e histórica e, assim, capaz de colher e interpretar plenamente a essência do real. Corolário imediato dessa tese é a consideração do processo de aculturação (de acúmulo de instrumentos culturais) não como processo absolutamente progressivo, mas simplesmente modificativo, em última instância. O mito, então, dessa perspectiva, resulta ser uma visão direta do real, dos próprios fundamentos do real, que a humanidade conseguiu coletar e cristalizar. Um momento cognoscitivo de capital importância que a humanidade “sucessivaâ€, sobrecarregada de meios culturais técnico-cientÃficos, está, de fato, impossibilitada de reencontrar e pode só parcialmente reconstruir. Mas se a experiência mÃtica direta é preclusa à humanidade moderna é, porém, ainda possÃvel para qualquer ser humano na fase da infância. Cada nova geração, assim, pode abrir por um breve importantÃssimo momento, a fresta do mito para toda a humanidade, mas isso só enquanto a estrutura educativa saiba fazer um passo atrás, não podendo ser metodologia e teoria formativa capazes de anular essa oportunidade insubstituÃvel.