Durante meados da década de 1980, o assentamento de Campo Alegre foi promovido pelo Estado do Rio de Janeiro como projeto-piloto de reforma agrária. Apesar de sucessos iniciais, esse projeto ambicioso logo se desarticulou tanto no âmbito comunitário quanto no estatal. Este artigo pretende entender por que não se concretizaram as grandes ambições para Campo Alegre, traçando um histórico microrregional denso a partir do estudo sistemático das fontes documentais existentes, sobretudo as produzidas pelos órgãos burocráticos especializados. Do lado da organização popular, enfatizamos a pouca articulação com outros movimentos sociais, dificuldade de gerir bens coletivos, dependência de lideranças personalistas e falta de tradição agrícola dos assentados. Do lado do Estado, situação fundiária cartorialmente complexa, leitura voluntarista pelos burocratas que equacionava os ocupantes em Campo Alegre aos movimentos de posseiros anteriores ao Golpe de 1964, inconsistência nas políticas públicas agrárias e cooptação de lideranças populares.
During the mid-1980s, the rural settlement of Campo Alegre was promoted by the State of Rio de Janeiro as a springboard to land reform. After striking initial results, the ambitious project stalled at both community and state levels. This article tries to understand why that happened, establishing a dense microregional historic approach from the analysis of the documental sources, especially those written by state agencies. On the community side, we highlight poor articulation with other mass organizations, bad management of common goods, dependence on personalistic leaders and lack of peasant traditions. On the state side, complex issues with previous land deeds, wishful thinking by bureaucrats who saw the occupants under the lights of prior rural conflicts, unclear agrarian policies and co-optation of popular leaders.