O presente ensaio tem por objetivo explorar a imagem do olho cindido na cena inicial do filme Um Cão
Andaluz numa dupla dimensão: primeiro, analisá-la como crÃtica do conhecimento, como crÃtica da
capacidade de representar a essência das coisas. Essa imagem do olho é percebida como uma ruptura
entre o significante e o significado, entendendo as imagens como uma complexa trama. A segunda
dimensão trabalhada é a de compreender a sobrevivência ou a vida-póstuma da imagem do olho cindido
a partir do conceito de Nachleben, cunhado pelo historiador da arte Aby Warburg. Esta imagem pode ser
compreendida como um importante dispositivo de análise para pensarmos um tempo-com, saindo das
amarras autonômicas e funcionalistas do tempo cronológico. Por isso, o texto é uma montagem, pois cada
uma das imagens trabalhadas conectam-se por um traço de semelhança e são uma hiper-temporalização
de um evento singular que também é plural. No devir das imagens, não há estados definitivos. Do triunfo
à queda a imagem do olho como alegoria do conhecimento sobrevive e ganha sentidos diversos a cada
nova apropriação. A tentativa de uma periodização, portanto, em termos de tempo e espaço, acaba por
ser infrutÃfera, pois a interpretação não tem um fim, é sempre uma obra inacabada.
This essay aims to explore the eye cutting image in the opening scene from the film Un Chien Andalou,
in two dimensions: Firstly, analyzing it as a critique of knowledge, and its ability to represent the essence
of the things. The image of the eye is perceived as a rupture between signifier and signified, considering
the images as a complex plot. The second dimension is to try understand the survival, or life-posthumous,
of the image of the split eye, through the viewpoint of Nachleben, a concept development by Aby
Warburg. This image can be understood as an important analysis device to think a time with other time
leaving the autonomic and functionalists ties of chronological time. Therefore, the text is like an abstract
composition, since each image is connected by a trace of likeness and they are hyper-timing of a singular
event that is also plural. As images come along, there is no final state. From triumph to fall the image of
the eye as an allegory of knowledge survives and wins various meanings with each new appropriation.
So, the attempt of a timeline in terms of time and space turns out to be fruitless since the interpretation
does not have an end, it is always an unfinished work.