Este artigo tem a intenção de provocar a reflexão em torno de dois conceitos que, embora tenham sido naturalizados como constituintes da identidade surda, possivelmente são, no território da biopolÃtica, antagônicos. O artigo tem como base as informações que foram trazidas em um dos capÃtulos da minha tese de doutorado na qual questões sobre a formação da identidade e comunidade de surdos foram levantadas, entre essas, os significados atribuÃdos à s palavras surdo e surdez (não são sinônimas). Por uma questão de organização, o artigo tem como ponto de partida o discurso socioantropológico, cujo princÃpio abrange a defesa dos grupos minoritários e, entre esses, a comunidade de surdos, perpassa pelo poder clÃnico e sua perpétua ação para promover a naturalização do seu discurso em diversas instâncias sociais e chega na atual formação do discurso que abarca e se reproduz fazendo da “surdez†uma marca “a favor/contrária†da identidade surda. A análise crÃtica, aqui exposta, alerta que é preciso ter cautela quando o conceito de surdez se torna naturalizado na pessoa e na comunidade de surdos porque surdez, a priori, é um conceito que contradiz as tentativas de compreensão de que surdo é uma identidade étnico linguÃstica. Surdez não faz referência à cultura, mas à qualidade patológica. A surdez, quando naturalizada, dissolve toda a luta das pessoas surdas em função do seu direito como brasileiro e como povo. Conserva-a, sem que se dê conta, no estágio patológico instituÃdo no século XIX sobre Les maladies de l'oreille. Portanto, surdez não se relaciona com identidade - a menos que essa demarque mal funcionamento do ouvido -, mas com enunciação de um corpo identificado clinicamente como patológico.