A ideia de trauma, enquanto categoria psiquiátrica, põe em evidência a existência de uma vulnerabilidade comum. O dispositivo psiquiátrico, simultaneamente disciplinar e biopolítico, organiza a vulnerabilidade ao trauma segundo mecanismos de governamentalidade que têm em vista a racionalidade econômica, a segurança da população e a constituição do indivíduo como empreendedor de si próprio. Assim, a vulnerabilidade é sinalizada, diferenciada e qualificada como negativa, de forma a preservar a segurança dos sujeitos e da população. Procura-se neste artigo, fundamentalmente a partir das obras de Michel Foucault e de Alasdair MacIntyre, analisar o dispositivo psiquiátrico no governo da vulnerabilidade e refletir se pode este governo ocorrer de outra forma, em que o reconhecimento da vulnerabilidade e da dependência seja o caminho para construir comunidades com uma diferente partilha do espaço urbano que procurem o bem comum.
The concept of trauma, as a psychiatric category, contains in itself the notion of a common vulnerability. Psychiatric power, understood here as a biopolitic and disciplinar dispositive, organizes vulnerability to trauma according to mechanisms of governmentality that aim towards economic rationality, population security and the constitution of the subject as entrepreneur of himself. Vulnerability is signalled, differentiated and framed as something inherently negative, for the purpose of protecting individuals and populations. Basing itself on the works of Michel Foucault and Alasdair MacIntyre, this article aims to analyse the psychiatric dispositive in the government of vulnerability, and gestures towards articulating alternative possibilities in which acknowledgement of a shared vulnerability and mutual dependency could function as a way to build communities with a different sharing of the urban space that strive for a common good.