INTRODUÇÃO: Alterações clínicas e sistêmicas como dificuldade para adormecer e presença de episódios de tosse podem prejudicar a qualidade do sono (QS) em indivíduos com fibrose cística (FC), por esse motivo, os distúrbios do sono (DS) têm merecido acompanhamento pela equipe multidisciplinar nos centros de referência para a doença.
OBJETIVO: Analisar o perfil do sono de escolares e bebês com FC e a relação com parâmetros clínicos.
METODOLOGIA: Estudo analítico transversal em indivíduos com FC de um centro de referência, idades entre 2 meses a 14 anos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em seres humanos do Hospital e os termos éticos foram assinados pelos participantes. Os indivíduos foram divididos em: grupo de bebês (GB) com idades entre 2 a 43 meses, e grupo de escolares (GE) entre 5 a 14 anos. Aplicou-se questionários para avaliação da QS nos grupos: no GB aplicou-se o Brief Infant Sleep Questionnaire (BISQ) e no GE o questionário Sleep Disturbance Scale for Children (SDSC). Como parâmetros clínicos, categorizou-se o escore para exacerbação pulmonar aguda (EPA) - Cystic Fibrosis Clinical Score (CFCS) -, coletou-se a saturação periférica de oxigênio (SpO2) (oxímetro Multilaser®), massa corporal (balança digital Wiso®), altura (estadiômetro Sanny®) e calculouse o Índice de Massa Corporal (IMC) pelo programa Telessaúde Brasil do Ministério da Saúde, assim como coletou-se em prontuário médico a gravidade da doença pelo Escore de Shwachman-Doershuk (ESD). Conduziuse análise estatística pelo Statistical Package for Social Science (SPSS), por meio do teste Shapiro-Wilk seguido do teste qui-quadrado, com nível de significância de 5%. Os dados foram apresentados em estatística descritiva e frequências.
RESULTADOS: Participaram 37 indivíduos (59,5% meninos), sendo 17 no GB, com média de idade 1,83±1,19 anos. Destes, 5 apresentaram propensão a DS e 12 não. Dos indivíduos com propensão a DS, nenhum estava em EPA, 3 tinham SpO2 boa (2 baixa), o IMC estava adequado e o ESD classificado como excelente. Entre os bebês sem propensão a DS, 9 não estavam em EPA (3 sim e 2 com SpO2 baixa), 10 com boa SpO2 e IMC adequado, 2 bebês com sobrepeso. O ESD se apresentou como excelente em 10 crianças,1 leve e 1 bom. Já no GE, participaram 20 indivíduos, com média de idade 9,33±3,80 anos e, destes, 14 manifestaram propensão a DS, todos com IMC adequado, sendo 13 sem EPA e 1 com. A SpO2 foi boa em 13 escolares e baixa em 1, ESD: 2 leve, 4 bom e 8 excelente. Entre os 6 sem propensão a DS, 4 estavam sem EPA e 2 com, estando a SpO2 baixa em 4 escolares e boa em outros 5, o IMC se mostrou adequado em 5 e baixo em 1, e o ESD foi classificado como: 1 leve, 2 bom, 3 excelente. Em ambos os grupos, não houve correlação entre a pontuação dos questionários sobre QS e os parâmetros clínicos de SpO2, ESD, EPA e IMC.
CONCLUSÃO: O GE apresentou mais casos com propensão a DS, mas sem relação com os parâmetros clínicos avaliados, assim como o GB.