INTRODUÇÃO: Em indivíduos com fibrose cística (FC) o índice de massa corporal e a massa muscular impactam na função pulmonar e na sobrevida. Desta forma, a avaliação nutricional detalhada dos pacientes com FC é um dos pilares no manejo destes pacientes. O diagnóstico precoce da desnutrição e da obesidade evita condições de agravo para essa população.
OBJETIVO: Avaliar perfil nutricional dos adultos com FC atendidos ao longo do ano de 2022 por equipe multidisciplinar dentro de uma policlínica universitária. Correlacionar o IMC com a idade.
METODOLOGIA: Trata-se de um estudo transversal e retrospectivo a partir dos prontuários eletrônicos. Foram incluídos indivíduos adultos com diagnóstico confirmado de fibrose cística atendidos de forma presencial no ano de 2022. Foram excluídos os pacientes os dados incompletos. Foram avaliadas as seguintes variáveis: Peso (kg), estatura (m), circunferências de braço (CB) e abdominal (CA), bem como dobra cutânea tricipital (DCT) foram obtidos por meio de balança de plataforma com estadiômetro Welmy®, fita inelástica e adipômetro Lange®. A classificação do IMC seguiu os pontos de corte estabelecidos pela primeira diretriz brasileira de nutrição em FC: < 18,49kg/m2 = desnutrição; 18,5 a 19,9kg/m2 = risco de desnutrição; 20 a 24,9kg/m2 = eutrofia; 25 a 29,9kg/m2 = sobrepeso; a partir de 30kg/ m2 = obesidade. Para análise estatística, utilizou-se o programa SPSS versão 22.
RESULTADOS: Foram incluídos 64 adultos, 35 eram homens, com a mediana de idade 26 anos (variação 19- 62 anos), 48 indivíduos (75%) usam terapia de reposição enzimática, em virtude de insuficiência pancreática exócrina e 16 (25%) tem diagnóstico de diabetes relacionado à fibrose cística. De acordo com o IMC, 23 indivíduos (36%) tem estado nutricional adequado, 15 (23%) estão desnutridos e 17 (26%) em risco de desnutrição. Os 49 (76%) indivíduos com IMC < 25kg/m2 usam suplementos hipercalóricos, sendo 2 por gastrostomia como via complementar de alimentação. Excesso de peso foi identificado em 9 indivíduos (14%) sendo 2 (3%) sobrepeso, e 7 (11%) com obesidade, tendo estes uma média de 105,9 cm de CA. Foi observada correlação positiva e com significância estatística entre a idade e o IMC (r=0,336; p=0,003).
CONCLUSÃO: Nessa população adulta com FC é possível observar uma diversidade em relação ao estado nutricional, onde o baixo peso, ainda predominante, divide espaço com um número cada vez mais frequente de pessoas com excesso de peso. A heterogeneidade genética na FC, a diversidade do perfil nutricional na idade adulta, e o achado do aumento do IMC com o avanço da idade, podem estar relacionados, porém a maturidade e adesão ao tratamento precisam ser investigadas como possíveis variáveis. Atingir e manter um estado nutricional ótimo para indivíduos com fibrose cística continua a ser um desafio! Exacerbações pulmonares, intercorrências gastrointestinais, ausência de educação nutricional e insegurança alimentar são alguns dos fatores frequentemente identificados como perpetuadores do desequilíbrio nutricional.